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Importação de Cacau pela Indústria do Brasil cai ao Menor Nível em 5 Anos

Indústria prevê dependência cada vez menor da amêndoa de fora do país. No mercado interno, preço ao produtor sobe, mas rentabilidade ainda é baixa
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Originalmente publicado em: Importação de cacau pela indústria do Brasil cai ao menor nível em 5 anos – Economia em Pauta – Conteúdo de valor

Com uma capacidade de moagem de 275 mil toneladas por ano e uma média processada de 220 mil toneladas nos últimos cinco anos, as três grandes indústrias de cacau do Brasil vinham importando em média 50 mil toneladas de países africanos para somar ao volume do mercado interno. Neste ano, no entanto, a conta está bem diferente. O volume comprado de fora atingiu seu menor número em cinco anos: 11.034 toneladas no acumulado de janeiro a outubro. Com um detalhe: em setembro e outubro, a importação foi zero.

Segundo a Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), representante das três multinacionais instaladas em Ilhéus (BA) que processam cerca de 95% das amêndoas produzidas no país, a tendência é fechar 2022 com o menor volume de importação dos últimos anos e receber mais cacau nacional, comprado especialmente da Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia.

Anna Paula Losi, diretora-executiva da AIPC, diz que, diferentemente do que pensam os produtores, a importação de cacau é menos interessante para as indústrias. Custa mais caro pela questão logística, tributária e pela necessidade cada vez maior de rastreabilidade da produção. Por razões fitossanitárias, o Brasil não pode importar cacau dos países sul-americanos como Equador e Peru. Quase todo o volume comprado de fora vem de Gana e Costa do Marfim, e uma pequena parte da Indonésia.

Segundo a diretora, o setor tem feito vários investimentos nos últimos anos para elevar a produtividade do cacau nacional e também faz campanhas educativas sobre a monilíase, doença que pode devastar as lavouras como a vassoura-de-bruxa fez na década de 80. O plano das indústrias é passar a receber 230 mil toneladas de cacau nacional em cinco anos. Já o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou que projeta alcançar a autossuficiência até 2025.

“Observamos um crescimento ainda pequeno da produção nacional nos últimos dois anos, que não sabemos se está consolidado porque a cultura depende muito das condições climáticas, mas o clima e o esforço da cadeia para aumentar a produtividade têm rendido boas safras”, afirma Ana Paula.

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Traduzindo em números, o volume recebido de amêndoas nacionais aumentou 10,5% no mês de outubro em relação a setembro, passando de 15.201 toneladas para 16.810 toneladas. Na comparação com o mesmo mês em 2021, houve um crescimento de 22,9%.

A comparação por safras também é positiva: na primeira safra, de janeiro a abril, as indústrias receberam 41 mil toneladas de cacau nacional ante as 21 mil toneladas do mesmo período de 2021. Na segunda safra, de maio a setembro, a entrega foi de 131 mil toneladas ante 112 mil do ano anterior. As perspectivas são boas para a nova safra e o recebimento pode passar de 200 mil toneladas neste ano.

Anna Paula, que não comenta preços do cacau alegando que isso é uma questão concorrencial entre as indústrias, diz que falta no país uma política de estocagem para entregar as amêndoas quando a indústria tem mais demanda, o que elevaria o preço pago ao produtor pela arroba.

“Existe uma visão errada de que a importação derruba o preço do cacau. O preço é determinado pela Bolsa de Nova York, pelo dólar, oferta e demanda local. Além disso, o produtor que vende direto para a indústria recebe mais do que o que vende para o intermediário”, analisa.

Atualmente, de 80% a 85% das amêndoas processadas nas indústrias vêm de atravessadores que buscam o produto na fazenda, pagam adiantado e chegam onde as moageiras não conseguem chegar. Há cinco anos, segundo Anna Paula, esse percentual era de 95% e há um esforço das indústrias para ampliar a compra direta e elevar a rastreabilidade da produção.

Segundo a diretora-executiva da AIPC, o setor vai dialogar com os novos governos estaduais e com o federal visando colocar o cacau na agenda prioritária da biodiversidade e bioeconomia. “A produção de cacau preserva o meio ambiente e pode gerar mais renda ao produtor.”

Outra preocupação é buscar novos mercados. O Brasil exporta derivados de cacau para toda a América do Sul e Estados Unidos. O principal mercado, no entanto, é a Argentina, cuja economia está em crise. Neste ano, com inflação alta e guerra no leste europeu, houve uma pequena queda nos volumes exportados, de 45.051 toneladas para 41.003 toneladas, acompanhando a redução de consumo de produtos finais do cacau como chocolate e biscoitos.

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Segundo produtores e analistas, a importação menor não resultou em preço melhor para o cacau nacional. Houve uma leve recuperação dos preços nos últimos meses, mas o valor da arroba permanece bem inferior ao de 2021, quando alcançou R$ 270.

Adilson Reis, analista de mercado de cacau, diz que a explicação para o preço mais baixo é que as indústrias iniciaram o ano muito estocadas porque compraram muitas amêndoas em 2021 e a safra temporã nacional também foi muito boa. Ele afirma que a formação de preço inclui o pagamento de um prêmio, que chegou a US$ 800 por tonelada em 2021 e caiu para US$ 170 neste ano. A média dos últimos anos era de US$ 400.

Segundo o analista, as indústrias ainda têm estoque para moagem. A tonelada alcançou o melhor preço do ano em novembro, subindo de US$ 2.380 para US$ 2.550 na bolsa de Nova York, graças à variação do dólar. Em reais, o valor da arroba ficou na média em R$ 200.

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Para Reis, apesar dos planos do setor para aumento de produtividade, faltam incentivos reais para esse aumento e o cacauicultor está mais pobre devido à queda de preços da arroba e ao aumento dos custos de produção, especialmente os insumos.

“Um saco de 50 kg do adubo NPK padrão para o cacau custava R$ 100 na média. Chegou a subir para R$ 340 e hoje está por volta de R$ 200. A venda de insumos caiu cerca de 60% e isso deve refletir numa queda de produtividade nos próximos dois anos da lavoura”, pontua

Ele ressalta que a produtividade no Brasil já é baixa, em torno de 30 arrobas por hectare, quando seria preciso de 70 a 80 arrobas. Por isso, a maioria dos cacauicultures tradicionais, especialmente na Bahia, que disputa com o Pará o título de maior produtor nacional, entrega a área para um meeiro explorar, deixando de pagar mão-de-obra e outros custos.

“O cacau é uma rica cultura pobre. Muita gente tem outra atividade e os produtores não têm acesso a crédito porque continuam endividados. A esperança está com uma turma boa de filhos de fazendeiros voltando para o campo e trabalhando para elevar a produtividade e produzir cacau de mais qualidade”, diz o analista.

Carlos Tomich é um dos novos produtores de cacau em Uruçuca, a 43 km de Ilhéus. Ele comprou a Fazenda Capela Nova há dez anos e tem investido na formação de novas roças, na recuperação das áreas antigas, no turismo rural e na venda de derivados do cacau. Em julho, ele afirmou à Globo Rural que o preço do cacau commodity estava muito baixo e que era preciso produzir 65 arrobas por hectare para equilibrar os custos. Em novembro, Tomich admitiu que houve uma escalada razoável dos preços da arroba de R$ 191 para R$ 215 e creditou isso ao aumento do dólar.

“Mas não compensa produzir para atender as indústrias de Ilhéus. A venda de produtos derivados do cacau na fazenda é que tem salvado a gente. Virou minha primeira renda. Além disso, fechei uma parceria com uma indústria do sul de Gramado para mandar nibs (sementes de cacau fermentadas, secas, torradas e trituradas) para refinamento”, conta.

O restante da produção, ele vende para um atravessador que busca o cacau na fazenda e não faz descontos como as indústrias. Sobre os descontos, a diretora da AIPC diz que as moageiras deixam de processar de 10% a 15% do volume entregue por causa de umidade, sujeiras e há até casos de cargas que são vendidas com pedras misturadas ao cacau para dar mais peso.

Ildebrando Fernandes, gerente de produção da fazenda Santo Antônio que cultiva 240 hectares de cacau orgânico no sistema cabruca (no meio da mata) na Reserva Serra Bonita, em Camacan (BA), diz que 30% da produção vai para as indústrias. Por ter selo de agricultura sustentável, o cacau da fazenda consegue um preço melhor, mas o investimento visa produzir para empresas que valorizam o produto orgânico. Ele afirma que os insumos para a produção orgânica também subiram muito, o que elevou os custos.

Para Elcy Gutzeit, grande produtora em Uruará, no Pará, está difícil fechar as contas com os preços pela arroba recebidos da indústria. A família pioneira na produção de cacau nessa região da Transamazônica tem 370 hectares cultivados e está investindo em plantio de clones com irrigação e alta tecnologia em outros 130 hectares.

“Essa região é abandonada. Os insumos como adubos e inseticidas chegam aqui bem mais caros que em outras áreas do país. Nos últimos dois anos, o custo de produção, que inclui mão-de-obra, plantio, combustível e insumos, subiu seis vezes e os preços da arroba despencaram neste ano.”

A saída, segundo Elcy, é apostar cada vez mais em qualidade e na exportação de cacau especial. Com amêndoas premiadas em 2019 no Salão de Chocolate de Paris e em concurso nacional, a produtora já exportou pequenos volumes para França, Bélgica e Itália.

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Sobre Cícero Costa
Cícero Costa é advogado tributarista, professor de direito tributário, especialista em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, com MBA em negociação e tributação internacional e palestrante. Sua atuação prática em mais de 15 anos de experiência fizeram de Cícero um dos maiores especialistas em precatórios e importação em Alagoas.