Insights

Pesquisar
Close this search box.

Comércio em Alta e Agenda Verde Ajudam a Reatar Relação com EUA

Especialistas veem oportunidade de aproximação inédita desde os governos Clinton e FHC o que será de grande vantagem para o comércio.
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Originalmente publicado em: Comércio em alta e agenda verde ajudam a reatar relação com EUA | Brasil | Valor Econômico (globo.com)

Joel Reynoso: linguagem de Lula dá confiança de que desafios da mudança climática e descarbonização serão abordados — Foto: Silvia Zamboni/Valor

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, nesta quinta-feira, 9, ocorre em um momento próspero das relações e alinhamento dos governos dos Estados Unidos e do Brasil. A visita de alto nível inaugura nova fase da agenda bilateral, que nos próximos quatro anos deve ter o meio ambiente como um dos principais eixos.

Além da questão ambiental no topo da agenda, temas como defesa de princípios democráticos, medidas para estimular o comércio exterior e a inserção do Brasil em novas cadeias de valor devem dominar a curta agenda de Lula em Washington e pautar as relações bilaterais nos próximos quatro anos, estimam especialistas.

comércio

“A relação apresenta uma grande oportunidade para os dois países hoje, que não pode ser desperdiçada mais uma vez”, afirma Sergio Amaral, ex-embaixador brasileiro em Washington e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “Brasil e EUA sempre tiveram uma relação pendular, ora mais próximos, ora mais distantes. E, neste momento, há grande convergência entre os dois em temas como democracia, clima e direitos humanos. Isso representa grande oportunidade.”

Segundo o diplomata, a última vez em que houve afinidade entre os países a ponto de se criar confiança foi durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, na segunda metade dos anos 1990. Em contraste, afirma, os anos que coincidiram os governos dos ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro também foram marcados por convergência, mas em torno de “causas ruins, como ataques à democracia e atentados aos direitos humanos”.

Segundo Joel Reynoso, conselheiro de Comércio do Consulado Geral dos EUA, em São Paulo, as relações passam por momento fértil, e o meio ambiente é um tema que estará no topo da agenda da visita de Lula aos EUA e nas discussões bilaterais dos próximos anos.

“A linguagem que o presidente Lula está usando nos dá muita confiança de que desafios realmente difíceis em torno da mudança climática e da descarbonização serão abordados [na visita]”, afirma, ao lembrar planos do governo Biden para tornar os EUA mais verdes, cujos investimento previstos são da ordem de US$ 2 trilhões.

Reynoso ressalta, contudo, que o tema mudança climática vai além de tópicos como Amazônia e desmatamento. Desde o ano passado, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, ligada ao Departamento de Comércio, compartilham informações para gerenciar secas e mitigar riscos relacionados a ela no Brasil. Os EUA também têm interesse em tecnologia de geração de energia eólica offshore que o Brasil possui.

“Estamos olhando para a tecnologia eólica offshore para alcançar [metas de] descarbonização”, diz.

Para Abrão Árabe Neto, CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), o meio ambiente deve ampliar as perspectivas econômicas e de negócios entre os dois países.

“Brasil e EUA fizeram compromissos ambiciosos no âmbito das negociações para reduzir emissões, e esses demandam investimentos na área tecnológica”, diz. “Há bastante potencial para Brasil e EUA cooperarem no desenvolvimento dessas novas tecnologias. O Brasil tem recebido investimentos altos em eólica, solar, tem interesse em explorar hidrogênio verde.”

Árabe Neto cita ainda outras frentes como exploração econômica sustentável de ativos da Amazônia, compensação de serviços florestais, regeneração de florestas, desenvolvimento do mercado de carbono. Ele diz que esses são espaços de cooperação potencial para os dois países, cujas relações comerciais e de investimento passam por boa fase. “Os EUA são o segundo parceiro comercial de bens do Brasil, mas são o parceiro com o qual temos maior qualidade em termos de agregação de valor”, diz. “São também o nosso principal parceiro de comércio de serviços.”

O Monitor do Comércio Brasil-EUA da Amcham mostra que em 2022 as trocas comerciais bilaterais atingiram a marca histórica de US$ 88,7 bilhões, com recordes em exportação e importação. O valor superou em 25,8% o de 2021, recorde anterior. Em 2022, as exportações do Brasil para os EUA subiram 20,2% em relação a 2021, chegando a US$ 37,4 bilhões. As compras brasileiras junto aos EUA tiveram recorde de US$ 51,3 bilhões.

As exportações de bens do Brasil para os EUA são superiores, em valor agregado, às vendas brasileiras para o restante do mundo. Cerca de 79% dessas vendas em 2022 foram de bens industriais, percentual maior que a média do comércio do país com o mundo (54%).

Em torno de 55% do que o Brasil vende aos americanos são produtos de média ou alta tecnologia. Esse percentual nas exportações brasileiras para mundo é de 25,1%. Os EUA também representam 45,7% de tudo que o Brasil exporta em bens de alta tecnologia.

Dados da Comex Stat compilados pela Amcham mostram que os EUA são o maior destino das exportações brasileiras em grupos de bens intensivos em cadeias de produção, como insumos industriais elaborados (22,3%), bens de capital (25,5%) e peças e acessórios para bens de capital (27,1%).

Os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de serviços, somando US$ 9,1 bilhões em 2021 – ou 44,1% do total. E aparecem como principal país de origem das importações de serviços pelo Brasil, sendo responsável por US$ 12,1 bilhões ou 43,6% do total.

Os americanos são os principais investidores estrangeiros no Brasil, com investimento estrangeiro direto (IED) de US$ 123,8 bilhões em estoque, 24% do total. A cifra é o dobro do investido pela Espanha, segunda no ranking, e cinco vezes o estoque de IED chinês no Brasil. Segundo o Banco Central, os investimentos americanos se concentram em serviços financeiros e na indústria de transformação.

“Os EUA aparecem como principal parceiro econômico do Brasil, e a perspectiva para este ano é de aprofundamento, como ocorreu em 2021 e 2022”, diz Árabe Neto. “[Por isso], a agenda econômico-comercial é inescapável e deve ser tratada também pelos dois presidentes. Temos um setor empresarial muito forte nos EUA, com estoque de IED de quase US$ 90 bilhões, e presença grande de empresas americanas aqui. Quando as empresas brasileiras resolvem se internacionalizar, olham com interesse o mercado americano.”

No início da semana, a embaixada e os consulados dos EUA no Brasil relançaram o programa SelectUSA, do Departamento de Comércio, voltado à internacionalização de empresas estrangeiras com foco no mercado americano.

Depois de dois anos parado, o programa aproveitou a reaproximação dos países e foi realizado em dois eventos. O primeiro no Consulado Geral dos EUA para atração de startups. O segundo, a Conferência SelectUSA, com foco na internacionalização de pequenas e médias empresas. A conferência serve de preparação da Cúpula de Investimentos do Select- USA, em maio, em Washington.

Abrão argumenta ainda que o Brasil deve aproveitar os planos de regionalização das cadeias de valor que o governo americano vem buscando de forma mais acelerada desde o choque da covid-19.

“Nessa conjuntura de busca por redução de riscos no comércio internacional que podem afetar cadeias, sejam geopolíticos, sanitários ou ambientais, podemos aproveitar para nos posicionar melhor, como fornecedores confiáveis de produtos e serviços”, diz. “Mas isso tem de vir acompanhado de aumento de competitividade da produção e das exportações brasileiras. Grande parte dessas medidas depende do dever de casa interno, como reforma tributária e do peso do sistema tributário na produção brasileira.”

Outras, acrescenta, podem ser facilitadas no âmbito bilateral, como um acordo para evitar dupla tributação, implementação de regras para facilitação comercial e convergência regulatória.

“Acho que os EUA estão procurando maneiras de diminuir sua dependência de certos países asiáticos. Todo mundo que conhecemos no continente americano é um possível parceiro, e acho que o Brasil está em boa posição”, diz Reynoso, ao ressaltar que o tópico será parte das discussões em Washington.

A perspectiva é parcerias no setor de aviação e saúde, com medicamentos e vacina, expandirem. “Vejo uma mudança de longo prazo, de depender menos de fornecedores em países asiáticos e mais de nossa vizinhança. E o Brasil está muito mais perto do que certos países asiáticos”, conclui.

Leia também: O que Esperar do Comércio Exterior em 2023? (xpoents.com.br)

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Entre em contato conosco

Descubra como possuimos uma solução completa para a Gestão Tributária da sua empresa!

Sobre Cícero Costa
Cícero Costa é advogado tributarista, professor de direito tributário, especialista em direito tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, com MBA em negociação e tributação internacional e palestrante. Sua atuação prática em mais de 15 anos de experiência fizeram de Cícero um dos maiores especialistas em precatórios e importação em Alagoas.