Originalmente Publicado em:. Brasil vai perder autossuficiência no arroz e terá de importar, diz analista – 30/05/2022 – Vaivém das Commodities – Folha (uol.com.br)
Em poucos anos, o Brasil deixará de ser autossuficiente em um dos principais produtos básicos do dia a dia da alimentação do consumidor brasileiro, o arroz. O cenário dos últimos anos indica para isso.
A previsão é de Vlamir Brandalizze, consultor e especialista no setor de grãos. Na avaliação dele, haverá, cada vez mais, uma substituição da cultura do arroz pela da soja, mais rentável.
Brandalizze diz que os preços baixos e poucos remuneradores da orizicultura afastam os produtores da atividade. O Brasil, segundo ele, tem um dos preços mais baixos no mundo para esse cereal.
Não adianta o governo zerar o imposto de importação, uma vez que os preços daqui são inferiores aos do mercado externo. O arroz do exterior terá entraves para chegar ao mercado brasileiro, afirma.

Boa parte dessa provável escassez de arroz produzido internamente ocorrerá devido a um jogo de forças internas. A concorrência no varejo aumenta, com reflexos sobre a indústria e sobre os produtores.
O varejo está bastante concentrado, as indústrias devem passar por uma nova fase de concentração, com a redução no número das pequenas, e os produtores agrícolas menores saem da atividade, ficando apenas os de maior fôlego na produção.
O agricultor até teve um respiro no ano passado, quando a saca do cereal chegou a ser negociada próxima de R$ 100 por um período do ano, mas já recuou para R$ 70.
A diferença, agora, é que os custos de produção estão bastante elevados, sem um horizonte de redução. Para Brandalizze, a produção de arroz é uma atividade muito cara, principalmente a do irrigado. Internamente, o setor sofre influência da alta dos combustíveis, da energia, dos fertilizantes e de outros insumos químicos.

Externamente, o produto brasileiro é barato, mas não tem competitividade no mercado externo devido à elevação do custo do transporte marítimo. Além disso, o dólar abaixo de R$ 5 inibe as exportações.
Para o consultor, o país já viu essa história antes. O Brasil já foi menos dependente de trigo, mas os preços internos baixos e o aumento das importações reduziram a produção nacional. Só agora, com a recuperação dos preços, a oferta deverá aumentar.
O mesmo ocorre com os fertilizantes. Tributação e custos internos levaram o país a aumentar as compras externas, tornando essa dependência atual muito perigosa.
Os custos de produção estão elevados em todo o mundo, mas os impostos pagos pelos concorrentes dos brasileiros chegam a ser menos de um terço do que o produtor nacional paga na comercialização das mercadorias e na compra de insumos.
Esse é um item que depende de política pública. Ao contrário do que pensam os governos, a redução de impostos não vai afetar a arrecadação, uma vez que eleva o consumo em vários setores, afirma Brandalizze.
Além de pagar mais para produzir, o produtor nacional recebe menos. A tonelada de arroz vale de US$ 260 a US$ 270 no Brasil; de US$ 300 a US$ 320 no Paraguai; e US$ 300 na Tailândia, considerando produtos da mesma qualidade.
Segundo ele, o quilo de arroz custa US$ 0,60 para o consumidor nacional, um valor inferior ao US$ 0,85 a US$ 1 nos demais países.
Uma redução interna de produção já na próxima safra traria um cenário de dificuldades para o consumidor. A oferta mundial será menor, e a demanda cresce.