Pequim deu um passo significativo no acirramento da disputa econômica com Washington ao proibir nesta terça-feira (3) a exportação de minerais essenciais como gálio, germânio e antimônio para os Estados Unidos. Esses materiais, vitais para tecnologias de ponta, incluindo semicondutores e armamentos, são amplamente utilizados em aplicações militares e civis, aprofundando as preocupações sobre a segurança das cadeias globais de suprimentos.
A decisão, anunciada pelo Ministério do Comércio Chinês, segue uma série de medidas adotadas por ambos os países que têm elevado as tensões comerciais nos últimos anos. Em comunicado, o governo chinês justificou a restrição com base em questões de segurança nacional, citando a necessidade de maior controle sobre itens de uso dual (militar e civil).
Impacto Estratégico
Gálio e germânio, metais essenciais para a produção de semicondutores, tecnologia infravermelha, cabos de fibra óptica e células solares, estão no centro da proibição. Já o antimônio, utilizado na fabricação de munições, mísseis e outros armamentos, também foi alvo da medida. Além disso, a China anunciou uma revisão mais rigorosa do uso final de grafite, material essencial para baterias de veículos elétricos, destacando a importância estratégica do controle sobre minerais críticos.
Dados da consultoria Project Blue mostram que a China é líder global na produção desses materiais, responsável por 98,8% do gálio refinado e 59,2% do germânio refinado em 2023. No caso do antimônio, o país domina 48% da extração global, consolidando sua posição como fornecedor crucial para indústrias de alta tecnologia.
Efeitos na Cadeia de Suprimentos
As restrições surgem no momento em que os Estados Unidos reforçam sanções contra o setor tecnológico chinês, particularmente no mercado de semicondutores. A proibição de exportações por parte da China, por sua vez, ameaça desestabilizar cadeias de suprimentos globais já fragilizadas.
Todd Malan, da Talon Metals, destacou a urgência de os EUA desenvolverem alternativas locais para minerais estratégicos. “A China vem sinalizando há algum tempo que está disposta a tomar essas medidas. Quando os EUA aprenderão a lição?”, questionou ele. A única mina de níquel dos EUA, por exemplo, deve se esgotar até 2028, exacerbando a dependência americana de insumos externos.
Resposta Americana
Um porta-voz da Casa Branca afirmou que Washington está avaliando as novas restrições e tomará “as medidas necessárias” para proteger suas cadeias de suprimentos críticas. Ele também enfatizou a importância de esforços coordenados com outros países para reduzir a dependência dos EUA em relação à China.
Contudo, a ausência de remessas significativas de germânio e gálio da China para os EUA ao longo de 2023, conforme dados alfandegários chineses, sugere que a medida já vinha sendo implementada gradualmente. Ainda assim, analistas alertam para o risco de a China expandir as restrições para outros minerais essenciais, como níquel e cobalto, o que poderia intensificar ainda mais a crise global.
Escalada Geopolítica e Comercial
A decisão ocorre em um momento crucial, com a iminente posse de Donald Trump em janeiro. Trump, que durante seu primeiro mandato adotou uma postura confrontadora em relação à China, poderá enfrentar um cenário ainda mais desafiador nas relações bilaterais.
Jack Bedder, cofundador do Project Blue, classificou a medida como “uma escalada considerável de tensões nas cadeias de suprimentos”. Segundo ele, o acesso a matérias-primas já é limitado no Ocidente, e as novas restrições da China agravam a situação, destacando a vulnerabilidade de economias dependentes desses insumos.
Perspectivas Futuras
A proibição chinesa de exportações de minerais essenciais sinaliza uma intensificação da rivalidade econômica e tecnológica entre as duas maiores economias do mundo. Para especialistas, o movimento reforça a necessidade de diversificação das cadeias de suprimentos e a busca por autonomia em materiais estratégicos por parte de países ocidentais.
Com ambos os lados endurecendo suas posições, o mundo assiste a uma disputa que transcende barreiras comerciais, influenciando profundamente as dinâmicas geopolíticas e econômicas globais.