O Brasil registrou um aumento significativo nas importações de fertilizantes entre janeiro e setembro de 2024, com uma alta de 10,9% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Esse crescimento reflete a crescente demanda do país por insumos agrícolas importados, especialmente em um contexto de incertezas globais e de conflitos geopolíticos que afetam a cadeia de suprimentos.
A situação torna-se ainda mais urgente com os desdobramentos da guerra no Oriente Médio, região historicamente relevante para o fornecimento de fertilizantes. Israel, um dos principais exportadores globais, vê-se diretamente envolvido nas tensões.
o que impacta a logística de transporte e o abastecimento de insumos críticos, como potássio e fosfato, usados amplamente na produção agrícola brasileira. Essa realidade leva o Brasil a antecipar suas compras, buscando garantir a disponibilidade dos produtos necessários para atender à demanda nacional de alimentos.
Dependência de Fertilizantes Importados e Desafios para a Agricultura Brasileira
A agricultura é um dos pilares econômicos do Brasil e depende fortemente de insumos para garantir sua produtividade. Aproximadamente 85% dos fertilizantes utilizados no país são importados, tornando o setor vulnerável às flutuações do mercado internacional e a crises geopolíticas.
A guerra no Oriente Médio intensifica esses desafios, pois afeta diretamente os países que exportam insumos agrícolas para o Brasil. A interrupção ou a limitação das exportações da região cria um efeito dominó, com impactos nos preços e na disponibilidade de fertilizantes.
Esse aumento de 10,9% nas importações entre janeiro e setembro não é isolado, mas sim parte de uma tendência de busca de segurança e estabilidade para o setor agrícola. Conforme destaca Thomé Guth, superintendente de logística operacional da Conab, o cenário global e os riscos de escassez levam os importadores brasileiros a antecipar suas compras. “Isso é simples de explicar.
Israel é um dos principais exportadores de fertilizantes. Então, qualquer coisa que afete aquela região, de uma certa forma, cria uma preocupação no nosso mercado, que se adianta no processo de aquisição desses componentes”, comenta Guth.
Os Impactos da Guerra no Oriente Médio para a Agricultura Brasileira
As tensões políticas e militares no Oriente Médio refletem diretamente nas exportações de fertilizantes para o Brasil. Israel, um fornecedor fundamental de potássio e outros insumos, enfrenta dificuldades na logística de transporte devido à instabilidade da região.
Isso afeta portos, aeroportos e outras infraestruturas essenciais para o comércio. Esse cenário gera um efeito cascata, pressionando o Brasil a encontrar alternativas para manter o fornecimento dos produtos.
Com a volatilidade dos preços de insumos importados, produtores brasileiros enfrentam o aumento de custos de produção, o que, em última instância, pode resultar em uma elevação nos preços dos alimentos no mercado interno. Essa situação pode impactar diretamente o bolso do consumidor e agravar a inflação, principalmente em itens da cesta básica.
Medidas para Reduzir a Dependência Externa
Diante desse contexto, especialistas destacam a necessidade urgente de o Brasil buscar alternativas para reduzir sua dependência de fertilizantes importados, investindo em políticas de incentivo à produção nacional de insumos agrícolas.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem discutido projetos para a exploração de reservas de potássio na Amazônia, por exemplo, mas esses esforços ainda enfrentam desafios de regulamentação ambiental e de infraestrutura.
Para reduzir a vulnerabilidade do setor, o Brasil pode incentivar tecnologias de fertilização mais sustentáveis, desenvolvendo biofertilizantes e aproveitando resíduos orgânicos. A colaboração entre universidades, empresas e o governo pode impulsionar a pesquisa e a inovação na área, permitindo ao país encontrar alternativas mais acessíveis e menos sujeitas a crises internacionais.
Perspectivas para o Futuro
O aumento nas importações de fertilizantes, impulsionado pela guerra no Oriente Médio, destaca a dependência do Brasil de insumos estrangeiros e a urgência de soluções estratégicas para o setor agrícola. A médio e longo prazo, o país precisará investir em medidas que tornem a produção mais independente e menos vulnerável a tensões internacionais.
Ao mesmo tempo, o Brasil deve continuar a trabalhar na diversificação de seus fornecedores de fertilizantes, buscando parcerias com países da América Latina e África para reduzir os riscos associados a crises globais. A busca por alternativas e o fortalecimento da produção nacional de insumos agrícolas tornam-se fundamentais para garantir a segurança alimentar e a competitividade do setor agrícola brasileiro no cenário global.