A importação de bens de capital, incluindo máquinas, equipamentos, caminhões e ônibus, atingiu um recorde histórico nos primeiros 11 meses de 2024. Segundo dados recentes da balança comercial brasileira, essas compras totalizaram 32,5 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 198 bilhões), representando um aumento de 21% em relação ao mesmo período de 2023. Esse crescimento reflete o avanço dos investimentos no país, conforme destacado pelo IBGE no PIB do terceiro trimestre, mas também levanta preocupações sobre a substituição de maquinário nacional por produtos importados, principalmente chineses.
Demanda em Alta, Mesmo com Dólar Elevado;
Mesmo com o dólar superando os R$ 6, o Brasil tem mantido um fluxo intenso de importação de maquinário. Isso se deve, em parte, à retomada de grandes obras de infraestrutura, como rodovias e projetos de saneamento, além do crescimento em setores estratégicos como comércio eletrônico, mineração e energia renovável.
De acordo com a Comexport, empresa especializada em comércio exterior, itens como empilhadeiras e plataformas para movimentação de mercadorias estão entre os mais importados, refletindo o aumento da demanda por eficiência logística em meio à expansão do e-commerce. Até outubro de 2024, a importação desses itens alcançou 699 milhões de dólares, mais do que o dobro registrado em 2021.
Amazon e o Papel do E-commerce;
A gigante do varejo Amazon ilustra bem esse cenário. Desde sua chegada ao Brasil, em 2019, a empresa expandiu de um único centro de distribuição em Cajamar (SP) para dez unidades em diferentes estados. Um exemplo é o centro inaugurado este ano no Recife, que opera com 100 empilhadeiras importadas da marca alemã Jungheinrich. Equipadas com tecnologia de ponta, essas máquinas utilizam baterias de lítio de rápido carregamento e sistemas de telemetria, oferecendo ganhos significativos em eficiência operacional.
Essas empilhadeiras são projetadas para tarefas de alta complexidade, como movimentar paletes de produtos pesados a alturas de até dez metros, otimizando o espaço dos galpões e acelerando os processos logísticos.
Setor de Mineração e Caminhões Fora de Estrada;
Outro destaque é o setor de mineração, que impulsionou a importação de caminhões fora de estrada. Esses veículos gigantes, capazes de transportar até 240 toneladas de material, já somaram 4,1 bilhões de dólares em compras internacionais até outubro, superando os números de todo o ano de 2023.
Críticas da Indústria Nacional;
Enquanto o aumento da importação é visto como um reflexo positivo do crescimento econômico, ele também expõe desafios para a indústria nacional. Para José Velloso, presidente da Abimaq, o Brasil enfrenta uma verdadeira “invasão chinesa”. Segundo ele, a China tem superado tradicionais exportadores como Estados Unidos e Alemanha, conquistando fatias crescentes do mercado brasileiro. Em 2024, o Brasil importou 9,7 bilhões de dólares em máquinas chinesas até novembro, um recorde absoluto.
Os dados da Abimaq mostram que o “consumo aparente” de bens de capital — que considera a produção nacional mais as importações e subtrai as exportações — registrou queda de 5,3% no acumulado de 12 meses até outubro. Isso sinaliza que o crescimento das importações não está sendo acompanhado por uma recuperação proporcional da indústria nacional.
Tecnologia Importada e Desafios Locais;
Embora as máquinas importadas tragam tecnologias de ponta que aumentam a produtividade, economistas apontam para a necessidade de incluir a indústria nacional nesse ciclo virtuoso. Segundo Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, o fortalecimento da produção local de máquinas e equipamentos geraria mais empregos e investimentos dentro do país.
Por outro lado, o economista Wladimir Janousek destaca que o avanço chinês é resultado de quase 30 anos de investimentos maciços em tecnologia e industrialização. “A China estruturou um modelo verticalizado e tecnológico que o Brasil não conseguiu replicar, apesar de muitos incentivos públicos”, afirma Janousek.
Impactos e Caminhos para o Futuro.
O cenário reflete o desafio brasileiro em equilibrar o aumento de investimentos com o fortalecimento da indústria local. Além disso, a dependência de importações pode expor o país a flutuações cambiais e limitações de acesso a tecnologias estratégicas. Especialistas defendem que o Brasil precisa repensar sua política industrial, investindo em pesquisa e desenvolvimento para competir em mercados globais.
Enquanto isso, a “invasão chinesa” segue em ritmo acelerado, aproveitando-se de uma combinação de preços competitivos e alta tecnologia. Esse fenômeno, se por um lado gera ganhos de eficiência imediatos, por outro lança um alerta para a necessidade de políticas que promovam uma maior participação da indústria nacional nos setores de bens de capital.